Ocorrência de ataques terroristas durante a realização dos grandes eventos internacionais que o Brasil sediará. - Uma possibilidade real?
Original escrito por: Eng. Esp. Acyr Pitanga Seixas Filho
Em: 10/12 /2012 e revisada em 25/01/2014
Em: 10/12 /2012 e revisada em 25/01/2014
Introdução
Não obstante o foco deste trabalho ser a ameaça de o Brasil ser palco de ameaças terroristas
quando da realização de grandes eventos internacionais que sedie, é relevante registrar a evolução ocorrida do chamado Terrorismo
Clássico, da época da Guerra Fria, para o que sobreveio pós Guerra Fria e ao
ataque das torres gêmeas em nove de setembro, o Terrorismo Transnacional
Contemporâneo.
No terrorismo clássico seus
adeptos cultivavam uma perspectiva
tática, geralmente o âmbito de suas ações era apenas
nacional, o seu alvo um governo ou uma estrutura de poder estatal.
Assim, no início do séc. XX
sucederam-se vários atentados a personalidades políticas, tais como o Rei
Afonso XIII, a Imperatriz da Áustria, o Czar Alexandre II da Rússia. Todavia, é
na década de 60/70 do século XX que o terrorismo explodiu por toda a
Europa. Surgiram os movimentos Brigadas Vermelhas na Itália, as Baden Meinhof, na
Alemanha, a ETA na Espanha e o IRA na Grã Bretanha. São implementadas novas técnicas nas
TTPs, tais como o uso de cartas armadilhas, granadas lançadas de helicóptero
(IRA), etc..
Já o Terrorismo Contemporâneo,
com uma característica de transnacionalidade já agregada, desempenha um papel eminentemente estratégico.
“Ele é transnacional ou
transfronteiriço e não apenas nacional, o seu alvo não é um governo ou uma
estrutura de poder estatal, mas a atual ordem das coisas. Seus meios incluem,
em hipótese, armas de destruição em massa, ou seja, armas nucleares, químicas,
biológicas e radiológicas, transformando o neoterrorismo em um terrorismo de
destruição em massa, devido à ação indiscriminada destas armas. O terreno onde
se cultiva são estados falidos ou os que onde o combate pela legitimidade foi
perdido ao crime organizado, ao fanatismo e extremismo, onde a sociedade civil
foi intimidada de tal maneira que não conseguiu se organizar a fim de resistir
a este fenômeno. O termo entra em uso a partir de 11 de setembro de 2001,
apesar de ser usado já nos anos 90.”
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O neoterrorismo rompeu os quadros
nacionais do terrorismo, ou seja, transbordou os limites da luta por uma causa
política ou nacional (autodeterminação, secessão, reivindicação “irredentista”,
descolonização). Portanto, as fronteiras de uma guerra do terrorismo contra
seus adversários se expandiu (dos países afetados pelo terrorismo de cunho
ultranacionalista - Reúno Unidos e Espanha - para os Estados Unidos, Europa,
Rússia, África e Ásia), formando um desafio global aos valores compartilhados
por uma série dos países. Além disso, o neoterrorismo declarou a guerra às
organizações internacionais universais, como a Organização das Nações Unidas,
matando seus representantes e funcionários, entre eles o brasileiro Sergio
Vieira de Mello. O último ataque contra a ONU aconteceu há pouco tempo na
Argélia. Podemos concluir que o objeto das ações terroristas é algo mais do que
a política externa e militar de um determinado estado, por mais perniciosa que
possa ser.
O Quadro I resume as principais
diferenças entre o terrorismo clássico e o transnacional contemporâneo (ÁLVARO Pinheiro[2]).
Diferenças
Básicas entre os Terrorismos Clássico e Contemporâneo Clássico Contemporâneo
|
|
Local
|
Global
|
Secular
|
Radical
Religioso
|
Nacional -
Autodeterminação
|
Imperialista –
Califado Islâmico
|
Marxista -
Leninista
|
Islâmico/Teológico
|
Organizações
Terroristas Fixas
|
Organizações
Terroristas Móveis
|
Estrutura Hierarquizada
|
Estrutura em
Rede
|
Quadro
I
Atualmente, as organizações terroristas
são integradas por elementos altamente profissionais, com rígidos critérios de seleção,
e adestrados, dentre outros, num intensivo emprego da tecnologia de ponta, incluindo
a tecnologia da informação.
Essa evolução compeliu as Forças de
Segurança e Defesa a aprimorarem as técnicas, táticas e procedimentos (TTP) voltados
às quatro atividades básicas da prevenção e do combate ao terrorismo: apoio de inteligência, antiterrorismo,
contraterrorismo e administração de consequências, particularmente a primeira –
apoio de inteligência.
O entendimento e o conhecimento
das motivações e capacitações de uma organização terrorista possibilitam uma
sólida fundamentação na conduta das operações de prevenção e combate ao
terrorismo bem sucedidas, bem como o emprego de aproximações ativas, tanto
direta quanto indireta na confrontação com a ameaça.
Sobre a relevância da
Inteligência, a Joint Publication JP3-26, “Counterterrorism” de 13 de novembro
de 2009, US Joint Chiefs os Staff, publicou:
"A eliminação de Osama bin Laden[3], em dois de maio de dois
mil e onze, tem ensejado especulações e avaliações estratégicas sobre a
letalidade da Al-Qaeda após o desaparecimento da sua maior liderança e quais as
circunstâncias que permitir-lhe-iam reorganizar-se para restaurar sua capacidade
operacional e prosseguir com a sua sanha destruidora e assassina".
Diversos países que atuavam no
Paquistão têm retirado suas tropas das Forças de Operações Especiais (FOpEsp)
que lutam ao lado dos Estados Unidos naquele Teatro de Operações (TO). A Al-Qaeda,
enfraquecida e privada dos seus principais comandantes, observa o
enfraquecimento das FOpEsp e conta com a possibilidade de a CIA, diante da
condição debilitada da rede terrorista, voltar atrás da sua decisão de não
desdobrar seu pessoal e recursos do Paquistão para a Al-Qaeda da Península
Arábica (AQAP), como é identificado o seu componente no Yemen.
Em vinte e dois de junho de dois
mil e onze, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou um plano
para dar início à retirada, até dois mil e doze, de trinta e três mil homens
das tropas norte-americanas do Afeganistão, o primeiro passo para encerrar um
conflito que começou há dez anos e que é cada vez mais impopular.
O Terrorismo Transnacional Contemporâneo pode ser visualizado sob uma
ótica temporal em três períodos: o que precedeu ao “Nine Eleven”, o pós “Nine
Eleven” até a eliminação de Osama bin Laden e o post mortem do líder mor da Al Qaeda.
Este trabalho se deterá, com particular ênfase, na análise do último
deles, iniciado em dois de maio de dois mil e onze quando Osama bin Laden foi
morto durante a operação “Neptune Spear” pelos “Navy Seal Team 6” em
Abbottabad, no Paquistão.
Alguns fatos relevantes que antecederam à morte daquele líder
terrorista serão revisitados face à sua vinculação com situações presentes no
período pós bin Laden.
Tais fatos poderiam e poderãoo ter
desdobramentos no horizonte temporal que abriga a realização de quatro “grandes
eventos” internacionais no Brasil, assim definidos pelo DECRETO Nº 7.682, DE 28
DE FEVEREIRO DE 2012.[4]
Evento
|
Período
de Realização
|
Jornada Mundial da Juventude
|
23 a 28 de julho de 2013
|
Copa das Confederações
|
2013
|
Copa do Mundo
|
2014
|
Olimpíadas
|
2016
|
“Outros eventos designados pelo Presidente da República”
|
Cabe assinalar que o Decreto não incluiu a Rio +20 que ocorreu no período de 20 a 22 de junho de 2012.
São oportunidades de enorme
visibilidade para o mundo que para a Al-Qaeda se apresentam imperdíveis como
palcos para ações de terror que lhe sacie a sede de vingança contra o ocidente
pela morte de Osama bin Laden e sua participação nas guerras do Afeganistão e
Paquistão.
O
cenário descrito aliado à presença e a movimentação de fundamentalistas
islâmicos radicais na América do Sul, particularmente no Brasil, bem como sua
associação ao Crime Organizado Transnacional, inspiraram o objetivo geral deste trabalho:
Ocorrência
de ataques terroristas durante a realização de grandes eventos internacionais
que o Brasil sedie. - Uma possibilidade real?
Da questão decorrem
os objetivos específicos que aqui
serão abordados:
Caso algum atentado terrorista venha a ser perpetrado, os Governos Federal, Estaduais e Municipais estariam capacitados e estruturados para administrar as consequências, ou seja, o estado de crise que certamente sobreviria dos ataques, independente da sua natureza?
Quais as principais ameaças terroristas às quais
o país estaria exposto durante a realização dos chamados grandes eventos que em
breve sediará? Quais as possíveis táticas, técnicas e procedimentos?
A
importância do tema decorre do relevante papel que o Brasil assumirá perante a
sociedade brasileira e a comunidade internacional de, face aos desafios
impostos pelo Terrorismo Transnacional Contemporâneo, garantir a segurança do
nosso povo, das delegações estrangeiras, autoridades e equipes de atletas que permanecerão
no país por ocasião da realização dos grandes eventos que sediará. Ademais, o
papel de relevância que o país vem assumindo no cenário internacional, aliado à
sua aspiração de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas, ONU, impõem-lhe adotar posturas bem definidas e
aderentes às normas, tratados, convenções etc. elaborados pela Organização das
Nações Unidas, pela Organização dos Estados Americanos e homologados pelo
Congresso Nacional Brasileiro referentes às ações de prevenção e combate ao
Terrorismo Transnacional Contemporâneo.
O tema será desenvolvido a partir de pesquisa à literatura sobre o
assunto, consultas à Internet, matérias publicadas em jornais, entrevistas com
funcionários de instituições bancárias e autoridades envolvidas na problemática
bem como reflexões sobre o que foi ministrado no Curso de Pós Graduação,
“Direito e a Inteligência no Combate ao Crime Organizado e ao Terrorismo”, no
que for pertinente.
[1] . Prof. Dr. Alexander Zhebit, Coordenador do Grupo de Acompanhamento e
Análise de Terrorismo Internacional (GAATI) – “O terrorismo e suas manifestações contemporâneas”, entrevista ao Laboratório
de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Disponível em http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=3483:o-terrorismo-e-suas-manifestacoes-contemporaneas&catid=12&Itemid=128 acessado
em 13 01/2013.
[2]GenBda R/1 ÁLVARO de Souza PINHEIRO em “O TERRORISMO, O CONTRATERRORISMO E AS INFRAESTRUTURASCRÍTICAS NACIONAIS”. O Gen Alvaro é Analista Militar especialista em Operações Especiais, Guerra Irregular e Contraterrorismo. Consultor do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEX). Associate Fellow (Analista não residente) e membro do Editorial Board da Joint Special Operations University (JSOU)/ United States Special Operations Command (USSOCOM), Tampa/Florida. Conferencista convidado e colaborador de inúmeras instituições militares e civis dentro e fora do território nacional, destacando-se a AMAN, EsAO, ECEME, ESG, EsIMEx, CECOPAB, BdaOpEsp, BdaInfPqdt, Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, e o Instituto Nacional de Altos Estudos/FORUM NACIONAL. Professor do Curso Pós-Graduação Lato Sensu “O Direito e a Inteligência no Combate ao Crime Organizado e ao Terrorismo”, da Universidade Católica de Brasília. Consultor Técnico da revista Tecnologia&Defesa. Membro honorário da Associação de Comandos de Portugal, assíduo colaborador da revista MAMA SUME daquela Associação.
[4] Altera o Decreto no 7.538, de 1o
de agosto de 2011, para alterar o rol de grandes eventos abrangidos pelas
competências da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do
Ministério da Justiça.
Próxima publicação:
O Terrorismo Transnacional Contemporâneo em Três Tempos
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