O Terrorismo Transnacional Contemporâneo em Três Tempos
O Terrorismo Transnacional Contemporâneo pode ser visualizado
sob uma ótica temporal em três períodos: o que precedeu ao “Nine Eleven”, o pós
“Nine Eleven” até a eliminação de Osama bin Laden e o post mortem do líder mor da
Al Qaeda.
Este trabalho se deterá, com particular ênfase, na análise
do último deles, iniciado em dois de maio de dois mil e onze quando Osama bin Laden
foi morto durante a operação “Neptune
Spear” pelos “Navy Seal Team 6” em Abbottabad, no Paquistão.
Alguns fatos relevantes que antecederam à morte daquele
líder terrorista serão revisitados face à sua vinculação com situações presentes
no período pós bin Laden.
A Al-Qaeda após a eliminação de Ozama bin Laden
Decorrido um ano
da operação “Neptune Spear”, controvérsias e questionamentos têm sido
levantados sobre a situação da Al Qaeda na atualidade e a sua capacidade de
continuar disseminando o terror pelo mundo.KEN SOFER , recorre a números
coletados do Worldwide Incidents Tracking System, do National Counterterrorism
Center para fundamentar a sua visão de que a ação do “Navy Seal Team 6”, teria
sido apenas a maior de uma longa série de derrotas que vinham sido infligidas à
Al Qaeda nos três anos anteriores e que a colocaram em uma trajetória
estratégica de derrota.
Os números mostrariam que enquanto a Al Qaeda continua sendo
uma importante ameaça para a segurança dos Estados Unidos, eles apontam que sua
habilidade de realizar atos de terror com sucesso tem diminuído
desde a morte de Osama bin Laden .como a seguir mostrado.
Segundo a agência Reuters – “Al Qaeda's core organization is likely
incapable of carrying out another mass-casualty attack on the scale of
September 11, 2001, U.S. intelligence and counterterrorism officials said on
Friday.” (Disponível em http://www.reuters.com/article/2012/04/28/us-usa-alqaeda-idUSBRE83Q1BX20120428, acessado em 12/05/2012.)
Sobre
este título, Robert Cardillo, vice diretor da US National Intelligence e especialistas
do governo americano expressaram, durante uma “conference call” e sob condição
de anonimato suas avaliações sobre o poderio da Al Qaeda após um ano da morte
de Osama bin Laden.
Na
oportunidade, disseram acreditar que a possibilidade de um ataque com armas
químicas, biológicas, atômicas ou radiológicas ao longo do ano passado não foi
elevado. Cardillo disse que o núcleo da al Qaeda tem sofrido revezes
estratégicos devido à eclosão dos protestos e rebeliões da “Primavera Árabe” em
países islâmicos que não causaram grandes simpatias para a linha dura da al
Qaeda nem para a ala violenta do Islam.
A
maior preocupação dos funcionários dos Estados Unidos e seus aliados no
estrangeiro engajados no contraterrorismo, é
a possibilidade do crescimento doméstico de grupos extremistas, ou dos “lone
wolves” que são compelidos à radicalização pela Internet ou por pequenas
células encorajadas por meios de comunicação conectados a al Qaeda e suas
afiliadas.
Quatro
afiliadas ou ramos da al Qaeda ainda se constituem em ameaças de maior ou menor grau para os interesses
americanos.
A mais mortal ainda
segundo os agentes é a localizada no Yemen, país situado na Península Arábica (AQAP) (Fig.1). Eles acreditam que esta
facção estava por trás das fracassadas, mas criativas tentativas de ataque a
alvos do território americano nos últimos dezoito meses, valendo-se de passageiros
de avião transportando bombas escondidas em suas roupas íntimas e em cartuchos
de tinta de impressoras.
O ataque mais recente da AQAP ocorreu no dia vinte e um de
maio de dois mil e doze no Yemem. A explosão aconteceu no meio de um batalhão do exército
na Praça Sabein. O terrorista responsável pelo atentado, que deixou mais de 300
pessoas feridas, estava disfarçado entre os soldados com um uniforme militar. O atentado causou a morte
de pelo menos 96 soldados e confirma a avaliação dos especialistas quanto à ferocidade
daquela organização terrorista.
A Al Qaeda no Iraq (AQI), que surgiu no
início da invasão americana em 2003 para expulsar Saddan Hussein, permanece
sendo uma ameaça potencial letal naquele país e pode estar expandindo suas
atividades para as vizinhanças da Síria, apesar dos agentes não acreditarem que
ela represente muito risco para os interesses dos Estados Unidos fora daquela
região.
A Fig. 2 mostra a
situação da al Qaeda no Iraque, em Janeiro de dois mil e sete. A ilustração
aponta as principais lideranças da organização terrorista capturadas e mortas e
suas respectivas áreas de homizio.
A Fig. 3 mostra os focos dos ataques perpetrados no Iraque. O gráfico
evidencia a importância dada às infraestruturas críticas para serem alvos de
ações contraterroristas em países que homiziam organizações estrangeiras.
Figura 2
Da mesma forma, aquelas instalações representam, também, importantes
alvos estratégicos para os militantes de organizações terroristas.( “Report to Congresso on the Situation on
Iraq”, Gen. David H. Petraeus,
Commander, Multi-National Force-Iraq, 10-11 September 2007. Disponível em http://foreignaffairs.house.gov/110/pet091007.pdf,
acessado em 13 de maio de 2012.)
Figura 3
Os funcionários
americanos disseram que vêm a al Qaeda na
região do Maghreb Islâmico (AQIM) (Fig.
4), uma afiliada baseada no norte da África, como sendo uma grande
organização criminosa envolvida em sequestros de ocidentais visando resgate.
Contudo, acrescentaram, estavam preocupados que tais táticas pudessem evoluir
para sequestros espetaculares com o objetivo de gerar publicidade para a causa
dos militantes.
Figura 4
Os funcionários
afirmaram ainda que passado o período em que a luta de jovens desiludidos
islâmicos era um atrativo, tanto nos Estados Unidos como na Europa, a afiliada da al Qaeda na Somália, al
Shabaab (Fig. 5), tem visto uma
visível redução no recrutamento e apoio ocidentais.( Katherine
Zimmerman May 31, 2010, “Somalia Conflict Maps:
Islamist and Political”, disponível em http://www.criticalthreats.org/somalia/somalia-conflict-maps-islamist-and-political,
acessado em 10 de maio de 2012).
Figura 5
Os “lone wolves”
Um fato ocorrido após a eliminação de Ozama bin Laden,
foi a mudança nas TTPs da organização, como NEUMANN
Peter (Peter Neumann é Professor de Estudos de Segurança do Departamento de
Estudos de Guerra no King’s College London e atua como Diretor do Centro
Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR, www .icsr.info), fundado no início de 2008) em
seu artigo “Osama Bin Laden’s death hurt Al-Qaeda ... but now it hunts with lone
wolves” (Disponivel em http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/features/4289394/Security-expert-Peter-Neumann-on-how-Al-Qaeda-has-evolved-after-Osama-Bin-Ladens-death.html,
acessado em 12/05/2012.)
Uma
das mudanças diz respeito ao recrutamento que não ocorre mais em centros
comunitários ou em mesquitas radicais. O foco são os diversos “fora” extremistas hospedados na internet onde
os seus componentes se encontram, trocam vídeos e baixam as últimas notícias dos
fronts como Yemen, Somália ou Afganistão.
Aduz
NEUMANN:
“Segundo um
especialista, a internet tornou-se o “adesivo virtual” que mantém a Al-Qaeda
unida. A rede mundial tornou mais fácil as pessoas acessarem a Al-Qaeda. Por
outro lado, seus líderes encontram mais facilidades para contatarem e se
comunicarem com seus seguidores.
Desta forma, a internet garante que as ideias da Al-Qaeda
continuem a inspirar pessoas ainda que seus campos de treinamento estejam
destruídos e seus líderes mortos.
Anwar al-Awlaki, foi morto em setembro passado, mas
os seus vídeos continuam muito populares
entre seus seguidores no Reino Unido e nos Estados Unidos. Sua mensagem é
enganosamente simples: Para ser um bom
Muçulmano, você precisa combater o Ocidente.
Nos últimos anos, a Al-Qaeda tem encorajado seus
seguidores no Ocidente a realizarem ataques menores mas com mais frequência.
Ela quer que as pessoas ajam como “lobos
solitários” que consigam suas pistas da internet e não aguardem por recursos da
Al-Qaeda para fazerem as coisas acontecerem.
Gente como Roshonara Choudhry, uma estudante
universitária de Londres depois de passar meses assistindo vídeos de Awlaki,
decidiu que queria ser uma mártir. Apossando-se de uma faca de cozinha,
virou-se para sua Diretora e a esfaqueou duas vezes. Ou Mohammed Merah, o atirador
de Toulouse que matou sete pessoas em um atentado a tiros no sudoeste da França
no início deste ano.
São os “lone wolves”(lobos solitários) e não os conspiradores
terroristas bem organizados do passado que são as maiores ameaças para as
olimpíadas de Londres (o negrito é nosso).
Pelo fato de eles agirem por conta própria e não serem
percebíveis pelos serviços de segurança, os “lone wolves” são praticamente
impossíveis de serem contidos.
É fato que a Al-Qaeda pode não ser mais capaz de
realizar ataques sofisticados como os de 11 de setembro, e que ela perdeu seu
líder e personagem mais inspirador. Embora enfraquecida ela tem atuado para se
adaptar.
Seu centro de
gravidade deslocou-se para internet, não obstante ela prospere na Somália e Yemen e – se tiver oportunidade
– ela irá tirar vantagens das guerras civis que ocorrem na Líbia e Síria.
A Al-Qaeda é mais anárquica e menos organizada do
que costumava ser. Mas ela não se foi.”
A ameaça da Al-Qaeda
passou sim, a ser menos previsível hoje do que era a uma década.
Não restam dúvidas
de que a eliminação de Osama bin Laden representou o coroamento das guerras e
ações contraterroristas desenvolvidas pelos Estados Unidos e seus aliados engajados
nestas lutas e um duro golpe na Al-Qaeda. Contudo, os analistas estão
majoritariamente alinhados com a visão de que aquela organização terrorista,
embora enfraquecida, continua representando riscos à segurança internacional e permanece
alerta para o surgimento de oportunidades decorrentes de tomada de decisões
estratégicas equivocadas pela comunidade internacional para se reorganizar.
O Osama bin Laden de Abbottabad
As repercussões da operação “Neptune Spear” foram providenciais para a então combalida popularidade do Presidente Barak Obama, contudo a morte de Osama bin Laden tenha significado para a Al-Qaeda mais a perda de uma liderança carismática cujo poder sobre seus seguidores se esmaecia ao longo do tempo.
Vem em socorro
desta afirmativa, as preocupações expressadas pelo próprio Osama bin Laden a
vários correligionários com os quais se correspondia.
Em três de maio de
dois mil e doze, o Combating Terrorism
Center (CTC), situado nas instalações do Departamento de Ciências Sociais, em West Point divulgou um estudo
de dezessete documentos apreendidos durante a operação em Abbottabad. São
e-mails ou rascunhos de cartas totalizando 175 páginas originais em árabe e 197
páginas na tradução para o inglês. Foram escritas durante o período de setembro
de 2006 a abril de 2011. ( “Letters from Abbottabad:Bin Ladin Sidelined?”. Combating Terrorism
Center at West Point. Nelly Lahoud, Stuart Caudill, Liam Collins,
Gabriel Koehler-Derrick, Don Rassler e Muhammad al-`Ubaydi. Acessível em http://www.ctc.usma.edu/wp-content/uploads/2012/05/CTC_LtrsFromAbottabad_WEB_v2.pdf
, acessado em 10 de maio de 2012).
Além do bin Laden, os
indivíduos identificados nas cartas como autores ou como destinatários são:
Atiyyatullah e Abu Yahya al-Libi, líderes da Al-Qaeda, Adam Yahya Gadahn, porta
voz e consultor de mídia da Al-Qaeda Americana, Mukhtar Abu al-Zubayr, líder do
grupo militante Somali Harakat al-Shabab al-Mujahidin, Abu Basir (Nasir
al-Wuhayshi), líder da Al Qaeda baseada no Yemen na península ArábicaPeninsula
(AQAP) e Hakimullah Mahsud, líder do Tehrik-e-Taliban no Paquistão.
Os poucos documentos
divulgados revelam que o foco das cartas de Osama bin Laden era o sofrimento
dos muçulmanos nas mãos dos seus irmãos de “jihadi”. Ele estava sofrendo e
aconselhando-os a abortar os ataques domésticos devido às mortes de civis
muçulmanos e perpetrá-los nos Estados Unidos, “nosso objetivo desejado”.
As dezessete cartas
de Bin Laden revelam, de forma contundente, a sua frustração com os grupos jihads
regionais bem como sua visível inabilidade de exercer controle sobre as suas
ações e declarações públicas.
Os gráficos que se
seguem (2010 Report on Terrorism, National Counterterrorism Center – 30 April
2011) mostram que Obama tinha
razão quando alertou seus seguidores para o sofrimento provocado pelos ataques
domésticos que causaram milhares de mortes e ferimentos em civis muçulmanos.
A Fig. 6 mostra que das 13.186 mortes
causadas em 2010, cerca de 70% delas foram praticadas por muçulmanos sunitas extremistas.
A Fig. 7 mostra que do total de 13.186
mortos, 7.313 eram civis e 663 eram crianças.
A Fig. 8 revela que os mortos
em sua grande maioria, assassinados por muçulmanos sunitas extremistas eram em
maior parte civis e crianças habitantes de países muçulmanos
.Figura 8
Em dois mil e doze, CARLOS AMORIM[1],
com sua perspicácia construída ao longo de quarenta e dois anos como jornalista
profissional já afirmava: “... A pressão militar da aliança ocidental
contra o terror empurra os grupos islâmicos para novas bases. Restam poucos
territórios livres para o jihad, e esses poucos estão especialmente na Ásia, na
África e na América do Sul, onde a semente
da resistência e do planejamento de novas ações pode sobreviver. Estes são os
futuros cenários.” (os grifos são nossos).
[1]Amorim,
Carlos – “Assalto ao Poder – o Crime Organizado”, pág. 248 - Rio de Janeiro,
Editora Record, 2010.
Trabalhou no jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Foi fundador do Jornal da
Manchete e diretor da Divisão de
Programas de Jornalismo da Rede
Manchete. Trabalhou durante 19 anos nas Organizações Globo, sendo cinco no
jornal O Globo, como repórter especial e editor-assistente da editoria Grande
Rio, e 14 anos na TV Globo. Foi chefe
de redação do Globo Repórter;
editor-chefe do Jornal da Globo;
editor-chefe do Jornal Hoje;
editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo
no Rio e em São Paulo; e diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi
diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de
notícias BandNews. Foi criador do Domingo Espetacular da TV
Record. Atuou em vários programas de linha de shows na Globo, Manchete e SBT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário